Bruno Pedro


A crise da crise

O verdadeiro problema de Portugal não é a crise em si. É a crise da crise.

Passo a explicar: a palavra crise tem vários significados, entre eles os seguintes (ver ainda a definição completa):

  1. Falta de alguma coisa considerada importante;
  2. Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso.

Portugal tem um problema grave de falta de impaciência. Os portugueses são demasiado pacientes e acalmados. Não há intensidade nem nas suas palavras nem nas suas ações.

Será do calor? Não, porque há outros países mais quentes onde a crise não está em crise. Será do vinho? Não, porque há países que consomem mais alcool mas mesmo assim não se acalmam tanto. A comida? A religião? A localização geográfica? Não me parece.

Portugal devia ser um case-study na área da psicologia: o povo português tem algo nos seus genes que o impede de se desencalmar. Não precisa de tomar ansiolíticos nem calmantes. É um povo calmo por natureza e a sua calma é contagiante.

Como pode um país de acalmados superar qualquer problema a não ser esperando? A crise da crise está presente em todo o lado: nos hospitais onde se espera para ser atendido mas não se reclama, nas esplanadas cheias de pessoas à espera que o empregado lhes traga a conta, no trânsito a caminho do trabalho todas as manhãs, e até mesmo enquanto se sonha à espera de melhores dias.

Milhões de portugueses passam a vida à espera uns dos outros, sempre pacientemente. Milhões de portugueses esperam que a crise passe e que as “coisas se resolvam”. Milhões de portugueses vivem, dia após dia, à espera do próximo dia, numa constante e agoniante placidez.

A verdadeira crise não é, portanto, a crise. É a crise da crise.